Ajudante de suicida

terça-feira, agosto 03, 2004

Uma grande lição: não se chega à sabedoria sem banho tomado

Da sexta série eu me lembro pouca coisa. Aliás, eu nem sei bem se o que vou contar aconteceu mesmo nas sexta. Talvez eu sofra de algum tipo de amnésia infantil. Não tenho certeza. Uma das coisas que me recordo é que estudei com duas meninas. Um dia elas pegaram meu caderno e se puseram a escrever coisas bobas nele. Naquele tempo se podia achar graça de frases chistosas como uma que dizia “diarréia são lágrimas de um cú apaixonado”. Eu achei essa bem estúpida, principalmente por ter esse “cú” no meio. E a outra (foram só duas) também, pelo menos até relê-la anos depois. Era a que dizia “transe com a vida. Se ela não quiser, estrúpe-a!”. Depois de muito é que compreendi que ela era um pouco mais do que apenas uma frase mezzo-punk de rebeldia, que dizia mais ou menos para se foder com tudo em último caso. Exagerando, pode-se considerar que ela chega a ter até aquela certa profundidade encontrada em algumas coisas simples. Se não isso, algum romantismo ingênuo e uma doce inconseqüência que se deixa para trás depois da adolescência.
É estranho como que de cada pessoa que se conhece se leva alguma coisa. Dessas duas meninas não guardei nem o nome, como é comum acontecer com as pessoas que perdem rapidamente a importância. Com outras se pode ainda se lembrar de como chamam, mas é só. Depois de um tempo eles voltam a ser desconhecidas. Acho que eu conservei esta frase na memória por ainda não tê-la aprendido, ou já, mas a tê-la esquecido. Para mim ela quer dizer: agüente a barra, viva o melhor que puder, mas não deixe que os outros te esmaguem. Pois é isso que acontece quando você vai contra a multidão. Às vezes é preciso encontrar um meio termo. Como o Sidartha no filme do Pequeno Buda. Depois de viver um tempo com aqueles eremitas que não tomavam banho e viviam na floresta, ele viu um cara numa jangada que alertava ao filho (acho) que se puxasse a corda demais, ela arrebentaria, mas se soltasse demais, ela ficaria muito frouxa. Mais do que qualquer um, acho que isso soa piegas e idiota, mas tudo bem. Talvez sirva para alguma coisa.
A partir de hoje, esporadicamente ou não, eu vou deixar uma frase aqui. Vou me esforçar para que as próximas não sejam tão pueris ou prosaicas. Para hoje, repito a que já disse.

1 Comments:

  • At 1:44 PM, Anonymous Anônimo said…

    O meio-termo, o equilíbrio, a coerência e a sensibilidade.. isso é TUDO garoto.

     

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