Ajudante de suicida

quinta-feira, setembro 09, 2004

Um dia nublado de praia

Depois de cinco dia em Porto Alegre fomos à praia no sábado. Eu nunca tinha visto o mar. Para os mais piegas, isso deve ser a quarta coisa mais importante depois de ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Talvez tivesse ficado mais impressionado se eu nunca tivesse visto um rio grande. Mas, mesmo assim, o mar é bem mais que isso. Não cheguei a me concentrar para juntar todas as coisas felizes que se perderam para me emocionar. Talvez sozinho o fizesse. Sei que sempre consigo ser anti-clímax. Era só fechar os olhos, ouvir o barulho das ondas e ter saudades das coisas que nunca fiz. Olhei apenas. Acho que não tão longa e detidamente como deveria. Ainda assim, e mesmo que não tão romanticamente, foi um daqueles momentos onde o vulgar tem algo de sublime, onde a mais simples das coisas é extraordinária para alguém. Tudo porque eu nunca tinha visto o mar. Talvez não sentisse falta disso se passasse toda a vida sem tê-lo visto. Ou não, não sei.
Caminhei, de tênis, pela praia a procura de conchas e pedras. Não achei nenhuma que me agradasse, mas guardei uma malhada. Provei da água (era mesmo salgada como dizem, apesar de não ser tão ingênuo para duvidar). Apesar disso, não é de um salgado muito forte. Mesmo depois de cuspir, uns grãozinhos de areia ainda continuaram na minha boca. Só depois descalcei os tênis para pisar na água. Aí tive a verdadeira sensação do que é realmente o mar: ele pode te levar a qualquer lugar. É a coisa mais forte e fluída que eu já vi. Me conformei em não ter encontrado uma garrafa com um manuscrito dentro com a de Poe. Tirei fotos, fiquei alegre como criança e me lembrei que também se vive sem se preocupar.
Ao chegar em casa percebi o que representava minha pedra malhada: a imperfeição, a coisa mais indesvencilhável para mim. Pensei em dá-la para alguém, mas resolvi que ela deve ficar comigo mesmo. Ela me mostra como as coisas são, malhadas e ásperas. Ela é minha agora, mesmo sendo a pedra de praia mais feia de todas. É assim que as coisas são. Em casa também, aliás agora, me lembrei daquele trecho de poema do Rimbaud, que é o último diálogo do filme Eclipse de Uma Paixão, sobre ele e o Verlaine:

Foi reencontrada
Que?
A Eternidade
É o Mar misturado ao Sol

3 Comments:

  • At 11:38 PM, Anonymous Anônimo said…

    Nossa, que texto lindo! Gostei muito. Beijão Clayton
    Luana

     
  • At 4:58 PM, Anonymous Anônimo said…

    Eu demorei pra ler o seu texto. Todo mundo comentou que era lindo, mas é muito mais que isso. Ainda ontem eu estava tentando escrever uma crônica e, como eu não tenho muito talento pra isso, ficou tosca. Mas era exatamente sobre pessoas como você. É impressionante a sensibilidade e a facilidade que certas pessoas tem para expressar um sentimento que parece invisível aos olhos dos outros.
    Beijão, Cecília.

     
  • At 12:51 AM, Anonymous Anônimo said…

    Pensando em você agora, andando na praia, um quase sorriso que custa a aparecer.
    Uma canção então..



    Eu quero ser este sonho
    onde o teu sorriso encontra
    força pra viver
    na dor do amanhã
    O teu sorriso sonha
    é com viver assim

    mesmo na dor 2x

    É com você
    vivo sempre neste sonho bom
    é com você
    sonho sempre com o'que há de bom, amor

    Quero me encontrar
    Quero te conhecer

    Vivos no amor
    seja onde for
    é com você, eu sei

    Mesmo na dor



    Não desista de seus sonhos.. doce sorriso.

     

Postar um comentário

<< Home