Um dia nublado de praia
Depois de cinco dia em Porto Alegre fomos à praia no sábado. Eu nunca tinha visto o mar. Para os mais piegas, isso deve ser a quarta coisa mais importante depois de ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Talvez tivesse ficado mais impressionado se eu nunca tivesse visto um rio grande. Mas, mesmo assim, o mar é bem mais que isso. Não cheguei a me concentrar para juntar todas as coisas felizes que se perderam para me emocionar. Talvez sozinho o fizesse. Sei que sempre consigo ser anti-clímax. Era só fechar os olhos, ouvir o barulho das ondas e ter saudades das coisas que nunca fiz. Olhei apenas. Acho que não tão longa e detidamente como deveria. Ainda assim, e mesmo que não tão romanticamente, foi um daqueles momentos onde o vulgar tem algo de sublime, onde a mais simples das coisas é extraordinária para alguém. Tudo porque eu nunca tinha visto o mar. Talvez não sentisse falta disso se passasse toda a vida sem tê-lo visto. Ou não, não sei.
Caminhei, de tênis, pela praia a procura de conchas e pedras. Não achei nenhuma que me agradasse, mas guardei uma malhada. Provei da água (era mesmo salgada como dizem, apesar de não ser tão ingênuo para duvidar). Apesar disso, não é de um salgado muito forte. Mesmo depois de cuspir, uns grãozinhos de areia ainda continuaram na minha boca. Só depois descalcei os tênis para pisar na água. Aí tive a verdadeira sensação do que é realmente o mar: ele pode te levar a qualquer lugar. É a coisa mais forte e fluída que eu já vi. Me conformei em não ter encontrado uma garrafa com um manuscrito dentro com a de Poe. Tirei fotos, fiquei alegre como criança e me lembrei que também se vive sem se preocupar.
Ao chegar em casa percebi o que representava minha pedra malhada: a imperfeição, a coisa mais indesvencilhável para mim. Pensei em dá-la para alguém, mas resolvi que ela deve ficar comigo mesmo. Ela me mostra como as coisas são, malhadas e ásperas. Ela é minha agora, mesmo sendo a pedra de praia mais feia de todas. É assim que as coisas são. Em casa também, aliás agora, me lembrei daquele trecho de poema do Rimbaud, que é o último diálogo do filme Eclipse de Uma Paixão, sobre ele e o Verlaine:
Foi reencontrada
Que?
A Eternidade
É o Mar misturado ao Sol
Caminhei, de tênis, pela praia a procura de conchas e pedras. Não achei nenhuma que me agradasse, mas guardei uma malhada. Provei da água (era mesmo salgada como dizem, apesar de não ser tão ingênuo para duvidar). Apesar disso, não é de um salgado muito forte. Mesmo depois de cuspir, uns grãozinhos de areia ainda continuaram na minha boca. Só depois descalcei os tênis para pisar na água. Aí tive a verdadeira sensação do que é realmente o mar: ele pode te levar a qualquer lugar. É a coisa mais forte e fluída que eu já vi. Me conformei em não ter encontrado uma garrafa com um manuscrito dentro com a de Poe. Tirei fotos, fiquei alegre como criança e me lembrei que também se vive sem se preocupar.
Ao chegar em casa percebi o que representava minha pedra malhada: a imperfeição, a coisa mais indesvencilhável para mim. Pensei em dá-la para alguém, mas resolvi que ela deve ficar comigo mesmo. Ela me mostra como as coisas são, malhadas e ásperas. Ela é minha agora, mesmo sendo a pedra de praia mais feia de todas. É assim que as coisas são. Em casa também, aliás agora, me lembrei daquele trecho de poema do Rimbaud, que é o último diálogo do filme Eclipse de Uma Paixão, sobre ele e o Verlaine:
Foi reencontrada
Que?
A Eternidade
É o Mar misturado ao Sol
3 Comments:
At 11:38 PM, Anônimo said…
Nossa, que texto lindo! Gostei muito. Beijão Clayton
Luana
At 4:58 PM, Anônimo said…
Eu demorei pra ler o seu texto. Todo mundo comentou que era lindo, mas é muito mais que isso. Ainda ontem eu estava tentando escrever uma crônica e, como eu não tenho muito talento pra isso, ficou tosca. Mas era exatamente sobre pessoas como você. É impressionante a sensibilidade e a facilidade que certas pessoas tem para expressar um sentimento que parece invisível aos olhos dos outros.
Beijão, Cecília.
At 12:51 AM, Anônimo said…
Pensando em você agora, andando na praia, um quase sorriso que custa a aparecer.
Uma canção então..
Eu quero ser este sonho
onde o teu sorriso encontra
força pra viver
na dor do amanhã
O teu sorriso sonha
é com viver assim
mesmo na dor 2x
É com você
vivo sempre neste sonho bom
é com você
sonho sempre com o'que há de bom, amor
Quero me encontrar
Quero te conhecer
Vivos no amor
seja onde for
é com você, eu sei
Mesmo na dor
Não desista de seus sonhos.. doce sorriso.
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